Como é a sociedade Anarco-Comunista.

Anarquia é a ausência de governo e hierarquias coercitivas, tendo no lugar livre associação e autonomia dos indivíduos.

Comunismo é produzir apenas para satisfazer necessidades, os bens são comuns e estão disponíveis a todos sem necessidade de dinheiro, assim não existem classes sociais porque a riqueza pertence a todos os membros da sociedade.

Esse é o conceito original de comunismo e é anterior a Marx, os primeiros comunistas não eram marxistas, Marx apenas criou uma teoria de como se chegar no comunismo. É um termo guarda-chuva que abrange uma gama de doutrinas politicas. O uso moderno do termo se originou com Victor d'Hupay, um aristocrata francês do século 18 que defendia viver em "comunas" nas quais todas as propriedades seriam compartilhadas e "todos poderiam se beneficiar do trabalho de todos".[1] Existiram os "Diggers" ingleses no século 17 que defendiam algo parecido.[2]

A descrição abaixo é baseado não somente nas nossas teorias e estudos, mas também nas experiências reais que já existiram por anos na Revolução Espanhola, na Comuna de Shimin e no Território Livre da Ucrânia, a Makhnovtchina, e só acabaram porque os fascistas e soviéticos invadiram.[14]

Seus teóricos são Piotr Kropotkin, Carlos Cafiero, Joseph Dejacque, Élisée Reclus, Nestor Makhno, Emma Goldman etc.




Em uma sociedade anarco-comunista, o trabalho está ligado ao desenvolvimento tanto individual quanto coletivo (comunal), são cooperativas e associações autogestionadas e livres, baseada na livre iniciativa dos indivíduos. Não existirá dinheiro, salário, estado, a produção será para satisfazer as necessidades humanas, em comunas autônomas autogestionadas que poderão compartilhar recursos com comunas vizinhas, integradas em uma confederação de comunas. A produção será descentralizada, não haverá uma associação central distribuindo tudo, no máximo associações que administrarão recursos comuns. Cada pessoa contribuirá conforme suas faculdades, aptidões, inclinações e habilidades e consumirá conforme suas necessidades e desejos, ou seja, sem que seja preciso condicionar o consumo a alguma forma de medida de equivalência com o trabalho feito. Será de acordo com a máxima: "De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”. A informação entre consumo e produção será direta levando a maior participação dos consumidores sobre o que estão consumindo. Poderemos ter a melhor qualidade de produtos possíveis, bem como o menor impacto ambiental, já que serão feitos diretamente para o uso e podem ser pensados da melhor maneira possível. Como o consumo e produção serão livres, cada um poderá consumir o que quiser e produzir o que quiser, se alguém quiser consumir algo que ainda não existe ele produz ou convence outros a produzirem.

Não é necessário dinheiro e salário para as pessoas trabalharem, o ser humano trabalha antes de inventarem dinheiro e salário, desde de quando vivia nas florestas, o faz porque gosta de gastar sua energia em atividades, para escapar do tédio. E para ninguém trabalhar no que não gosta, podemos colocar máquinas para trabalhar no nosso lugar, cada vez mais as maquinas estão ocupando o lugar dos humanos no trabalho, existem impressoras 3D que imprimem casas, a IA está substituindo trabalhos intelectuais, a tendência disso é aumentar cada vez mais, podemos usar isso ao nosso favor. E somado ao fato de que muitos trabalhos que só existem hoje para manter o sistema atual não existirão, vai sobrar mais tempo livre. Podemos acabar com a divisão de trabalho e lazer para tornar as atividades produtivas prazerosas. A divisão de trabalho manual e intelectual também vai desaparecer, o que significa que de manha você poderá fazer um trabalho intelectual e a noite um trabalho braçal. Se houver algum trabalho chato ele pode ser feito em turnos, isto é, cada pessoa fazendo um pouco para não ficar chato para ninguém. Para que trabalhar em uma fábrica de chocolate? Para justamente poder comer chocolate. Para que ajudar a construir uma casa de alto padrão para outra pessoa? Para poder também ter uma. Nós produziremos pelas vantagens que teremos. Se um trabalho importante não for feito em uma comuna local, ele prejudicara aqueles que dependem dele, como encanação quebrada, banheiros sujos, problemas de energia, etc. Assim, as pessoas envolvidas terão que trabalhar para não sofrerem as consequências de sua própria negligencia. Para evitar problemas que atingem pessoas muitos distantes, as coisas devem ser produzidas nas comunas ou próximo a elas, embora nem tudo possa ser, existem as Associações interligadas que se comunicam e ajudam a cuidar de problemas com proporções maiores.

"Não haverá compra e venda. A revolução abole a propriedade privada dos meios de produção e distribuição e com ela vão os negócios capitalistas. A posse pessoal permanece apenas nas coisas que você usa. Assim, o seu relógio é seu, mas a fábrica de relógios pertence ao povo. Terras, máquinas e todos os outros serviços públicos serão propriedade coletiva, não podendo ser comprados nem vendidos. O uso real será considerado o único título - não de propriedade, mas de posse. A organização dos mineiros de carvão, por exemplo, ficará a cargo das minas de carvão, não como proprietária, mas como operadora. Da mesma forma, as irmandades das ferrovias administrarão as ferrovias e assim por diante. A posse coletiva, administrada cooperativamente no interesse da comunidade, tomará o lugar da propriedade pessoal conduzida de forma privada com fins lucrativos." (Alexander Berkman, what is communism anarchism, P, 154)

Por causa da ausência de um estado e de poder econômico cada indivíduo terá poder equivalente, não podendo mandar em outros. Para aumentar seus poderes os indivíduos poderão se juntar em grupos para defenderem suas ideias. Assim, poderá haver várias comunas com culturas completamente diferentes.

Vamos delinear a forma de organização anarco-comunista. Essa seria descentralizada (cada associação produtiva determina seus métodos de produção e gestão, tudo claro dentro da lógica da autogestão).

A necessidade é definida pela demanda real de determinado bem ou serviço, de modo geral a necessidade é derivada da demanda existente e preestabelecida pela comunidade produtiva regional. Itens básicos assim como qualquer serviço são distribuídos de acordo com as necessidades dos indivíduos. A demanda interna define a distribuição local assim como a troca de excedente, caso exista, desses bens primários, se estendendo até os bens de consumo e serviços mais complexos e especializados. O processo econômico num sistema AnCom é articulado por associações e cooperativas de produção-consumo direto/troca do excedente, ou seja de baixo para a cima e orientada pela distribuição programada, é desse fator que a valoração de uma matéria prima até a finalização do bem que ela dará forma é adquirido.

Em vez de comparar preços, a alocação de recursos será baseada na comparação dos valores de uso de bens específicos, bem como em sua escassez relativa. Os valores de uso comparados seriam positivos (ou seja, quão bem ele atende aos requisitos) e negativos (ou seja, quais recursos ele usa, que poluição causa, quanto trabalho está incorporado nele, e assim por diante). Desta forma, a informação de custo real, mais frequentemente do que não ocultada pelo preço, pode ser comunicada e usada para tomar decisões sensatas. A escassez seria indicada por associações comunicando quantos pedidos estão recebendo em comparação com sua capacidade normal - conforme as associações obtêm mais pedidos, o índice de escassez de seus produtos aumentaria, informando outras associações para buscar substitutos para os bens em questão.[15] Num sistema onde os planos de produção e alocação são tomados num nível local, o cálculo econômico pode ser baseado em unidades físicas de bens e quantidades exatas de serviços a serem produzidos/prestados devido a maior acessibilidade a informação, menor número de informações a serem analisadas e maior número de mentes operando no processo. Os bens seriam tabelados por cada unidade produtiva local intercalada com outras unidades que fazem parte da mesma cadeia produtiva. Não existe problema do cálculo econômico numa sociedade organizada em agrupamentos de produtores e consumidores localizados numa rede descentralizada. Isso se tornaria ainda mais possível com a integração das indústrias. A produção ancom no nível local permitiria uma melhor manipulação das informações de cada agrupamento. Some isso claro ao projeto de integração da indústria com a agricultura e vc terá uma produção voltada a satisfazer as necessidades em um nível territorial (o da comuna). As necessidades podem ser, por meras questões de utilidade prática, separadas entre as imediatas e as necessidade de luxo. As primeiras, por sua vez, podem ser dividas em mais ou menos imediatas (ter seu tempo de produção e distribuição definidos pelas condições gerais da comuna) dependendo da situação. Acredito que métodos de contabilidade sejam necessários em qualquer contexto, e, por isso mesmo, a comuna ancom tbm terá o seu. Tais métodos podem variar entre cálculos em espécie ou não.

Vemos o planejamento social racional ocorrendo pela definição da prioridade de setores e bens/serviços, desde os essenciais até o luxo. Os volumes exatos de produção são, então, determinados localmente em resposta ao consumo, com a alocação de recursos determinada pela prioridade relativa das indústrias, produtos e serviços em questão. Desse modo, a macro-ordem em termos de volumes reais de produção é emergente e não planificada, embora possa surgir de acordo com as prioridades de um plano decidido socialmente.

Os meios pelos quais nós pensamos que este processo de planejamento social deve acontecer é através de estruturas de conselhos, por delegados com mandatos revogáveis ou rotativos definidos em assembleias para tratar das decisões de alocação de recursos de acordo com as prioridades do plano social. Pode haver outras maneiras de fazer isso incorporando tecnologia (como por exemplo, qualquer pessoa ser capaz de acessar um banco de dados para atualizar suas preferências individuais, atualizando automaticamente o plano social). No entanto, uma tal base de dados em larga escala seria sem precedentes, e em qualquer caso, há provavelmente benefícios em ter discussões cara-a-cara em conselhos, em vez de escolhas individuais atomizadas. Nós estamos de mente aberta para meios melhores, mas uma estrutura de conselhos parece um bom ponto de partida.[16]

Complexos científicos a gestão não é descentralizada, já que nesse aspecto as autoridades em determinados assuntos devem coordenar os setores, a indústria bélica idem, setores industriais que mexem com coisas que pode ocasionar cataclismos tem uma forma de gestão e organização diferente do resto. Associações tratam de setores, ou seja, o setor aeronáutico terá todos os setores vinculados em uma associação livre na gestão comum dos associados em ligação com as questões políticas nacionais e internacionais, o anarquismo terá seu conjunto de regras, normas e processos de qualidade e segurança.

O estágio final das comunas implicará em produção local por indústrias descentralizadas, integração ao campo e cidade, em novas cidades que serão bem diferentes das nossas, já que serão feitas pensando na ergonomia, na melhor forma de produção, distribuição, ecologia, moradia etc.

Para maior economia de recursos e congraçamento social, algumas comunas podem ser feitas com habitações coletivas, em falanstérios, sem residências mono familiares, com compartilhamento de refeitórios, dormitórios, enfermarias, lavanderias, creches etc. E com meios de transporte coletivos, sem veículos particulares, havendo, contudo, garagens com veículos pequenos para usos emergenciais, de propriedade comunitária. Já outras comunas podem ser feitas com propriedades particulares, como as das cidades modernas.

Comentários

  1. Faltou dizer que as habitações também passam a ser coletivas, em Falanstérios, sem residências monofamiliares, com compartilhamento de refeitórios, dormitórios, enfermarias, lavanderias, creches e tudo o mais. Que os meios de transporte serão coletivos, sem veículos particulares, havendo, contudo, garages com veículos pequenos para usos emergenciais, de propriedade comunitária. Do mesmo modo não haverá exigência de exclusividade relacional amorosa, podendo as pessoas serem maridos ou mulheres de mais de uma outra e de modo não amarrado. Ou seja, todos são de todos e todos são pais e mães de todas as crianças.

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    1. Obrigado pela sugestão Ernesto, coloquei no texto essa possibilidade dos Falanstérios.

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    2. E a questão das relações amorosas é algo que vai variar dependendo da cultura.

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  2. Ótimo texto, sobre as pena de morte eu discordo, não haverá prisões mas tem várias formas de punir, uma que cê não mencionou é a de trabalho forçado.
    ✊🏴🚩

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